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Meridional. Revista Chilena de Estudios Latinoamericanos tem o prazer de convidá-lo a participar do dossiê "Vigência do marxismo latino-americano: pensando com, a partir e além da obra de Michael Löwy" correspondente ao número 21, que será publicado em outubro de 2023.

Chamada para publicaçao Meridional 26: "Arquivos, violência e subjetividades. Práticas, discursos e estéticas do cinema documental latino-americano do século XXI"

2025-03-11

Meridional. Revista Chilena de Estudios Latinoamericanos tem o prazer de fazer o convite para participar no dossiê "Arquivos, violência e subjetividades. Práticas, discursos e estéticas do cinema documental latino-americano do século XXI" para o número 26, a ser publicado em abril de 2026.

O cinema documental na América Latina passou, desde o início do século XXI, por uma série de transformações, tanto no funcionamento do seu campo específico (mecanismos de produção, instâncias de consagração, redes de circulação e exibição, hábitos de consumo) quanto na configuração de seus discursos e estéticas. Essas mudanças refletem, em parte, processos ocorridos no documentarismo global, mas, ao mesmo tempo, adquirem inflexões específicas relacionadas às tradições do cinema documental na região, às condições de produção, à história sociopolítica da América Latina, aos seus conflitos e às formas de habitar o presente. Algumas das modificações que impactaram o cinema documental nos últimos anos se articulam em torno de três conceitos-chave: arquivo, violência e subjetividade.

A virada para o arquivo, conforme argumentado por Hal Foster (2004) no campo da arte contemporânea e também presente nas práticas audiovisuais do período, pressupõe tanto a possibilidade de investigar arquivos públicos, de ampla circulação, quanto aqueles de acesso restrito, abrangendo desde arquivos repressivos até registros familiares ou domésticos. Dentro desse amplo espectro, o cinema documental latino-americano desenvolveu uma série de estratégias voltadas à exploração de diferentes modos de intervenção nesses arquivos. Em alguns casos, busca-se revisitar os arquivos do terror ditatorial (Paz Encina, Anita Leandro, Teresa Arredondo); em outros, recuperar os arquivos familiares das vítimas do terrorismo de Estado (Nicolás Prividera, Agustina Comedi). Alguns documentários recorrem à televisão ou aos arquivos oficiais (Lucas Gallo), enquanto outros se apropriam de registros caseiros e familiares para entrelaçar memórias íntimas e históricas (Moreira Salles, Natalia Garayalde, Ignacio Agüero, João Moreira Salles, Eryk Rocha).

Em grande medida, essas intervenções no passado, por meio da recuperação de arquivos, visam revisitar a história da violência que assolou a América Latina. O documentarismo latino-americano mapeou tanto as práticas criminosas das ditaduras (Patricio Guzmán, Albertina Carri, Carmen Castillo) quanto os impactos das políticas econômicas neoliberais, muitas vezes sobrepostas a essas experiências de repressão (Fernando Solanas, Carolina Adriazola e José Luis Sepúlveda). Grande parte da produção documental na região parte do desejo de examinar as condições de vida dos setores mais precarizados da sociedade. Contudo, essa abordagem adquire novas formas, distanciando-se tanto da tradição da pornografia da miséria quanto das abordagens politicamente instrumentais das décadas de 1960 e 1970. Ao mesmo tempo, nos últimos anos, violência também se refere à imposição de modelos políticos centrados no exercício da violência, como a expansão do tráfico de drogas como estado paralelo (Tatiana Huezo, Everardo González), a repressão policial (Carlos Araya) e prisão (Tana Gilbert, Francina Carbonell, Sepulveda e Adriazola).

Se o documentarismo foi capaz de articular discursos sobre as rupturas e continuidades entre passado e presente e foi capaz de organizar uma abordagem do presente atenta aos diferentes graus e intensidades da violência, também explorou a emergência de novos modos de subjetividade e de novas estratégias de subjetivação. A combinação entre políticas identitárias e práticas audiovisuais deu origem a uma série de experiências nas quais se materializou um discurso sobre essas subjetividades (individuais e/ou coletivas) historicamente periféricas na produção documental da região. Na emergência de identidades sexuais dissidentes, de populações nativas, de identidades étnicas ou religiosas minoritárias no tecido social, surgem novas questões sobre as possíveis formas de figurações de identidades muitas vezes outras na história da América Latina (Camila José Donoso, Aldo Garay, Juan Carlos Rulfo).

Além disso, o documentário latino-americano dialoga com sua própria tradição como prática criativa, estabelecendo relações de ruptura e filiação. Incorporando elementos como ensaio, experimentação e hibridização de formatos, o documentário contemporáneo expande sua linguagem para além de seus próprios limites. Nesse sentido, trata-se de uma prática em contínua renovação, que não apenas introduz novas abordagens temáticas, mas também explora novos processos e formas estéticas. Casos como os de Albertina Carri, Ignacio Agüero, Bettina Perut e Iván Osnovikoff, Gustavo Fontán, Susana Barriga e Andrés Di Tella exemplificam essa tendência, ao experimentarem com a linguagem ensaística e exploratória, misturando registros, tons e processos que visam expandir os limites do documentário por meio do ato criativo.

Sob essa perspectiva, o documentário latino-americano contemporâneo se apresenta como um espaço de investigação e problematização de temas como história, política e os futuros possíveis para a sociedade, ao mesmo tempo em que se configura como uma linguagem própria, em profunda expansão.

Eixos temáticos sugeridos (não exclusivos):

  • Remontagens e estética do arquivo na perspectiva da memória
  • Intervenções nos arquivos familiares: a história em tensão a partir do íntimo
  • Vidas precárias no neoliberalismo contemporâneo: formas de violência e resistência
  • Subjetividade, corpo e performatividade para além do grau zero documental
  • Ativismo audiovisual e militância no documentário latino-americano atual: do protesto à viralização
  • Estética, processos e ensaio no documentário latino-americano contemporâneo: linguagens híbridas para um campo em expansão
  • Violências e subjetividades: o documentário e sua inscrição na história para além dos mapas estabelecidos
  • O documentário em risco: violência e desintegração do Estado. Narcotráfico, repressão policial e vulnerabilidade dos corpos

A Meridional está indexada nas seguintes bases de dados: ERIH-Plus, Latindex Catálogo, DOAJ, Dialnet, Gale-Cengage, Prisma.

Prazo final para submissão de manuscritos: 30 de setembro de 2025.

Consultas, contato e envio de propostas: revistameridional@gmail.com

Coordenadores do dossiê
Mariano Veliz (IAE-FFyL-UBA, Argentina)
Iván Pinto Veas (Escola de Cinema, Ciah, Universidad Mayor, Chile)